domingo, 22 de maio de 2011

SOFIA

Vi a velhice torturada pelas plásticas,
remoçada no trabalho insano de evitar que a morte
dia a dia, segundo a segundo, molde
sobre a argila que nunca deixamos de ser,
o seu hálito. Os vincos da pele
traduzem o resultado da luta interna
de fígado, estômago, pulmões,
rins, intestinos, sangue
tudo lentamente roubado ao sopro inicial
& inexorável contingência concluirá sua tarefa.
 Todos seremos carbono, estrume de vida.
Vi a velhice torturada e me ocorreu
este estranho pensamento:
não seria Sofia mais bonita ainda,
se vestisse no lugar da máscara da juventude,
a fina malha que lhe tecera a vida,
ostentando todas as rugas, hoje, roubadas ao bisturi?

EM PAR, ÍMPAR

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