segunda-feira, 27 de junho de 2011

UMA VEZ

Uma vez,
várias vezes
já me senti tão só
que quando pintou uma luz,
uma luz só,
só uma luz,
porra, só uma luz -
Você está me ouvindo !? -
quando pintou uma luz só,
uma luzinha assim,
me iluminou todo,
total, absurdo,
eu ali encandeado,
sem sentir as luzes
(milhares, donaires, outros ares)
cruzadas dos olhares das mulheres
que sorriam a dizer:
Vem, me agrada tua pessoa.

EM PAR, ÍMPAR


quinta-feira, 23 de junho de 2011

TERESA

Vénus Anadiômene

 

Bebo e olho mulheres,

seduzem casarões.

 

Colonial, teu sexo

exalta-se ao me ver

brechando teus peitos.

 

Despencas num sorriso

a me prometer lençóis.

 

EM PAR, ÍMPAR 

terça-feira, 21 de junho de 2011

TRAVESSURA

O homem que banha
enrolou até o meio das pernas, as calças
e banha na maré alta do rio Bacanga.
Magro, dentro da bermuda de bainha volumosa
diverte-se num mergulho de menino.
O menino, que todos somos, junta um cocô seco de burro,
arremesa-o, para divertir-se, puro sarro,
em dois hippies sentados à beira mar.
Surpreendidos em seu mantra canabiótico
buscam em vão o autor do petardo
disfarçado de apreciador do poente.

O FRUTO DA IRA É DOCE

sábado, 18 de junho de 2011

HAMLET

Qdo
penso
posições
a mim
corretas,
que tomo.
Ajo como um louco.

Qdo
faço
aos olhos
loucura,
o que é-me.
Ajo determinação de pedra,
com a,
de uma.

O FRUTO DA IRA É DOCE 

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O POETA E O MONSTRO

Agora me divido
eu em mins mesmos
e nos labirintos que me submeto
à divisão da divisão, duvido-me,
busco o escurotransparenteconcreto
onde não há hierarquia entre o bem e o mau.
Alterno-me Jekill e Hyde
embaço o passo com vocês,
minhocas, potocas, galinha pedrez,
o que pensam, não sei
o caos chegou-me outrora, atrás.

Você não diz?
Diga-se.
Gabe-se.
Beba-se.
Babe-se.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ALMOÇO

Almoço na Relva, Manet

Metade preso ao coque
os cabelos longos escorrem
sobre as orelhas.
Duas grossas sobrancelhas
emolduram os olhos
que se fazem pequenos
quando sorriem.
Um proporcinado nariz
prepara aquele que a contempla
para o entalhe dos rosaperolados lábios
movimentando-se a conversar comigo.
Ela, bela, belabela,
na igualitária mesa 
de um self service
a tornar mais iluminado o dia 
ao sol do meio dia.

O FRUTO DA IRA É DOCE

quarta-feira, 15 de junho de 2011

MATERNIDADE


           Estava sentada de vermelho no bar. O vestido realçava a beleza da mulher entre 35 e 40 anos, loira, óculos preto. Bebia uma cerveja. Ofereceu-me uma taça. Estava emocionada. Antes havia me telefonado. Se seu saberia fazer uns enfeites para um quarto de bebê. Agora com as revistas sobre gravidez, bebês, me mostrava uma série de desenhos de abelhas, joaninhas, lagartas, plantas em tom pastel, e recebia a afirmação, sim, sei fazer. Cerveja boa. Estava esperando o bebê para estes dias, queria um quarto bem bonito. Mas não estava grávida. Alguém teria o bebê e daria a ela. Estava tudo acertado. Não se casara. Estava de bem com a vida, queria a criança. Porque não tem pelo método tradicional, é bom? Maliciei a pergunta. Riu. Já havia tentado, mas não veio, quem sabe essa criança não puxa a outra. Me sinto grávida, é como se eu fosse ter o bebê. Estava graciosa. Longe, por trás das palavras e dos silêncios, rolava uma simpatia, um flerte, algo jamais aflorado. Falei da vida, dos meus filhos, dos enganos e desenganos amorosos, que a vida segue em frente, e que é assim mesmo, ela falou de carreira profissional, estabilidade, e que agora queria o filho, não queria casamento, mas tava aberta a relações. Esticamos a conversa além do preço acertado, por uma meia hora desfrutamos do prazer de nossas presenças e de nosso encontro, estava esperando a mãe e duas tias. O tempo desenrolou-se tranqüilo como nossa conversa. Chegaram. Alegria e abraços femininos. Apresentou-me. Viram os desenhos. Aprovaram. Despedi-me. Ficou de me ligar para adiantar 50% do valor do trabalho.

terça-feira, 14 de junho de 2011

CHAVES PERDIDAS

"Portas se abrirão cheias de luz",
desejou-me o mantra.
Cobriu-me com o feitiço das palavras
e forte eu sou
porque estou vestido com suas roupas e armas.
Lá fora descerram-se as brumas da alvorada
e ferahomem, que sou,
vou à luta.

O FRUTO DA IRA É DOCE

segunda-feira, 13 de junho de 2011

VOTO

Imagino-te feliz,
isto diz tudo,
embora mova-me a vontade
que tua presença em mim
se estabeleça.

Aparentemente só a natureza
me conduz a ti;
a minha e a tua,
animais que se querem.

Viveremos a quimera do cotidiano,
e se,
se eu souber do universo os encantos
e tu
com tua magia  encha os filtros do dia
de mel e perfume
possamos  ao final, sempre há final,
dizer no silêncio,
foi bom, amamos.

O FRUTO DA IRA É DOCE

sábado, 11 de junho de 2011

MELOFONIA

Não desliguem o cósmico disco.
O unicórnio celeste chifrará
a mãe da baleia azul, que
negra se fará.  Faremos farinha.
Dissipem-se as nuvens do mistério.
Que toda a luz caia sobre o mantra
e buda de água pura ore,
ora, Coralina viveu entre nós.

Muito ovo, muito peixe, muita disritmia,
coré, coré, aleluia, até outro dia.
Viver: há dias diáfanos,
soltos de solidão.
Somente o momento é.
Adispois, o nada, o silêncio.

O FRUTO DA IRA É DOCE

sexta-feira, 10 de junho de 2011

NatUREzA moRTA

É poética a alegria?
A felicidade induz à rima?
Não me perguntem.
Quero a luz de um poema
sóbrio , solto, leve, conciso,
capaz de fruto e raiz.

Iluminado:  Manhãs.

Em vão  busco insight's
na cor poeira gris,
no mar cinza prata,
no horiznote ilhéu  redondoinfinito.
Quero a luz
que sendo  branca  é  arcoíris
e o poema sai  assim.

O FRUTO  DA  IRA  É  DOCE

quarta-feira, 8 de junho de 2011

OFICINA DA PALAVRA

Poesia quero-a na vida,
que a vida seja poesia,
todos os momentos sejam pura poesia.
Viver é poesia.
Estar vivo, conhecer as manhãs
e conhecer as manhas do humano convívio,
conhecer o conhecimento a que cada um se dedica:
eis a poesia.

Poeta, só aprendi a recortar
quadros do eterno contínuo
e oferecê-los a você, que agora me lê,
em palavraspoemas.

O FRUTO DA IRA É DOCE 

segunda-feira, 6 de junho de 2011

PRAIA GRANDE

Álcool, sexo, tambor
de crioula, de branca,
de toda a fáuna que queima a flora,
mas a mais: Amai-vos!


Entre casarões, paralelepípedos,
a infalível boemia
emprenha teus espaços, paços.


Arde
 dentro
  tropas,
   pastos,
    toscos
     costumes.


Queima
       mármores
                 remotos.


Arde demais. Avis rara.


EM PAR,ÍMPAR

domingo, 5 de junho de 2011

NONATINHO

Morreste algum tempo
estimado camarada.
Teu corcaixão apodrece lentamente,
acredito-te já ossos...
Nada da carne dessangrada.
Nada de oríficios.
Cinco.
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.
Tocaia maldita (Besta Fera o latifúndio).
Um imenso cortejo. 
Levamo-te ao teu último plantio.
Semente aos olhos oculta, espreita.

Incorpora-te tranqüilo à terra, mortoamigo.
Tua memória faz jus à rebeldia.

EM PAR,ÍMPAR

quinta-feira, 2 de junho de 2011

PATERNIDADE

O futuro é uma bola
de hidrogênio
ou nêutron,
de cristal
ou que gira, gira, gira.

O futuro é uma incógnita
equação irresolvível,
x desconhecido
que se cogita,
agita, pica.

EM PAR, ÍMPAR

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Lua

A lua
(
oculta nas trevas,
assistiu-nos nus,
muda
(transparente burla)
colou-nos crus,
)
partiste-te:
queimei-me nau soturna.

EM PAR, ÍMPAR