segunda-feira, 30 de maio de 2011

POR ONDE SEGUE A MADREPÉROLA




Por onde segue a madrepérola,
será algum céu cinzento, ou
um vermelho céu da boca de uma leoa?

Não,
não seguirás pérola pedra
pois que te colho
e adorno-te em uma gargantilha
que ora ponho no pescoço dela.

EM PAR, ÍMPAR

sábado, 28 de maio de 2011

aRTISTAS

Artistas usam o corpo como tela para recriar pinturas


Teimosos replicantes
que se incineram antes,
em outra gênese.
Etnerfarpzart.
Em primal combustão
biopsicoativando 
secretos carbonos.

EM PAR , ÍMPAR

sexta-feira, 27 de maio de 2011

GLOBALIZAÇÃO

Dois rios
um Anil
outro Bacanga,
de minha ilha,
desembocam no imenso mar
represado na Baía de São Marcos.

Dois rios com destino comum ao dos rios,
o de 
despejar suas  águas em outro,
alimentar corrégos que virarão rios,
poderosos hidrodutos a desembocarem no tigelão oceânico
para cumprir o ciclo das águas que é de ser chuva,
nuvem e gelo,
pois mirrados que são,
seus filetes não impedem o avanço das marés
e assim são invadidos rio a dentro
pelo murmúrio das ondas
que levam os barcos pesqueiros
para o Portinho, Madre Deus, Desterro,
Liberdade e Fé em Deus.

O imenso mar deita-lhes seus vazos capilares
até que o planeta se incline e o leve.
Quando ele se vai,
misturado ao sal de suas entranhas
vai um poquinho de Anil e Bacanga.

O FRUTO DA IRA É DOCE 

quarta-feira, 25 de maio de 2011

ESOTÉRICO

O sagrado, parece óbvio, salva.

Na comunitas há uma autopunição,
um suicídio cultural: morte imaginária.

Só nas rotas do sagrado,
o eu que me imagino,
se reconstrói, conforta-se.

Salva-se como pessoa.
Luz. Cor.
Pedrinhas azuis. Liláses.

O FRUTO DA IRA É DOCE 

terça-feira, 24 de maio de 2011

CD ZéMARIA & A CASCA DE BANANA

Saiu o cd ONDE TÁ O CÔRO. DE ZéMARIA & A CASCA DE BANANA. JÁ A VENDA. BREVE O SHOW. Com Ana Duarte, Saci Teleleu, Fumaça, Mondego, e grande elenco. Música, Poesia, Dança, Bonecos. e vocês lá, pra conferir e apoiar. BREVE.

domingo, 22 de maio de 2011

SOFIA

Vi a velhice torturada pelas plásticas,
remoçada no trabalho insano de evitar que a morte
dia a dia, segundo a segundo, molde
sobre a argila que nunca deixamos de ser,
o seu hálito. Os vincos da pele
traduzem o resultado da luta interna
de fígado, estômago, pulmões,
rins, intestinos, sangue
tudo lentamente roubado ao sopro inicial
& inexorável contingência concluirá sua tarefa.
 Todos seremos carbono, estrume de vida.
Vi a velhice torturada e me ocorreu
este estranho pensamento:
não seria Sofia mais bonita ainda,
se vestisse no lugar da máscara da juventude,
a fina malha que lhe tecera a vida,
ostentando todas as rugas, hoje, roubadas ao bisturi?

EM PAR, ÍMPAR

quarta-feira, 18 de maio de 2011

URUBUS

Aquelas nuvens lá
bonitas. Não?
Olha os camelos!
Tá vendo aquela? 
Aquele fiapo que se une com aquele outro e forma uma macaco?
Agora é um elefante.
É, é mesmo!
Coisa bonita é vôo de urubu.
Tu ja viste Zé? Abrem as asas e começam a plainar; horas e horas
imóveis:
horas e horas...
Tá vendo o círculo qu'eles tão fazendo?
Farejaram um.
E quando eles se esquentam na cumeeira de Dona Alice?
Ficam se esquentando, abrem as asas no meio e ficam lá.
Urubu rei tem cabeça vermelha.
É,
em cima de carniça, então?
O primeiro que eles comem é o fogorós.
E a zoada: xengo, xengo,
xengo, xengo, o fato é meu.
Vôo bonito.
São horas e horas parados lá em cima.
O vôo mais bonito.

EM PAR, ÍMPAR

segunda-feira, 16 de maio de 2011

OCASO


O paralelepípedo
sob a luz amarela no poste
que imita o colonial
não tem para mim
a mesma cor que
ao meio-dia inclemente.

Sei que continua paralelepípedo
pela sua natureza de pedra
pela sua dureza de rocha.

CAFÉ DO TEMPO (inédito)

sábado, 14 de maio de 2011

LOIRAS


Final de tarde, sobre a ponte do Rio Anil, trânsito lento, freio, embreagem, carro em primeirassegunda, a vejo, meditativa, mão no queixo, olhar distante, longe, pergunto-me, será se ela me vê, vejo-a através do retrovisor, cauteloso, sabedor que devasso uma intimidade, verifico se distingo o rosto do veículo da frente através do retrovisor dele, o vidro traseiro espelhado me barra qualquer visão, volto a vê-la, mãos no volante, lento segue o trânsito, alheia a meu olhar, dirige, algo sutil um encantamento surge-me por ela, enlevado, o comboio quase parado de duas filas com centenas de carros permite, em oculta urbanidade, que eu a observe suave fragrância de uma paixão. Movem-se os carros. Atento dirijo. Nova parada. Volto ao retrovisor. Está ela, na maior naturalidade, com o indicador atolado no nariz, retira-o e faz a bolinha. Desfaz-se o encantamento.
Desafoga o trânsito, sigo meu caminho, na Camboa os carros tornam a enfileirar-se, no retrovisor vejo um carro vermelho, cor do carro dela, é ela, firmo a vista é loura, é outra, esta usa óculos e examina as unhas enquanto espera o semáforo ficar verde.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SOBRE A INTERESSANTE CONVERSA TRAVADA NUMA DAS MESAS DE DONA BERNARDA SE O MUNDO ACABARIA MAL SE PERMANECESSE NAS MÃOS DA CABEÇA DE CAMARÃO DA BURGESIA, OU BEM, CASO O SOCIALISMO BRANCALEONE PUSESSE AS MÃOS NO PODER


Infante descobridor da indestrutibilidade da matéria,
o limite da existência vai além da militância anêmica.
Livros,aliás, como tudo o é, na imensa produção da era,
são ora diamantes, ora lixo prontos para sairem de cena.
O pesquisador diligente percorre os caminhos da descoberta,
de tudo duvidando, pois a certeza é mãe da ingorância eterna.

EM PAR , ÍMPAR

terça-feira, 10 de maio de 2011

SER POETA

Pra mim
que resolvi
as palavras montar
em versos
super fácil
ter tal sina.
Uma flor: Um amor.
Um balão: São João.
Fácil sina.
Fácil rima.

A ilusória perfeição
das quadras quadradas,
pedras de cantaria da poesia,
belas porque ruínas,
foi meu protoencontro.

"Batatinha quando nasce..."
Sina malsina.
Palavras são idéias,
idéias são palavras.
Não me bastava o
remanso dos alexandrinos,
a prisão das sextilhas.

Assim
a românticafloridaestradapalavra
desertificou-se,
sumiram as fáceis rimas,
pragacapim de minha poesia jardim:
Machado lavra palavras.

Plana meu desejo
em céu desconhecido,
de sons são as palavras.

O FRUTO DA IRA É DOCE

segunda-feira, 9 de maio de 2011

PRECURSORES


Aprendo com eles. Humanizo-me.
Tênue como a memória que teima em não vir
de um trem que nunca saltei.
Sempre me encantei com a vida.
Filosofei. Li. Cantei.

O FRUTO DA IRA É  DOCE 

quinta-feira, 5 de maio de 2011

QUIXOTE

Triste figura,
marginal lunático.
Há demônios
- ?!?1?!?! -
gigantescos moinhos.

À loucura andante,
Rocinante viu,
não viu Sancho, o escudeiro.É tudo.
Dulcinéia não veria.

O cavaleiro jamais se sentiu sozinho.

EM PAR, ÍMPAR

segunda-feira, 2 de maio de 2011

ODISSEU





Percebo o tempo e sua olaria
indiferente a qualquer desejo
a qualquer existência que não a sua:
a da ampulheta que escoa.

Vou no turbilhão, ínfima canoa.
Um sonho.
Um coração. 

O FRUTO DA IRA É DOCE