sábado, 14 de maio de 2011

LOIRAS


Final de tarde, sobre a ponte do Rio Anil, trânsito lento, freio, embreagem, carro em primeirassegunda, a vejo, meditativa, mão no queixo, olhar distante, longe, pergunto-me, será se ela me vê, vejo-a através do retrovisor, cauteloso, sabedor que devasso uma intimidade, verifico se distingo o rosto do veículo da frente através do retrovisor dele, o vidro traseiro espelhado me barra qualquer visão, volto a vê-la, mãos no volante, lento segue o trânsito, alheia a meu olhar, dirige, algo sutil um encantamento surge-me por ela, enlevado, o comboio quase parado de duas filas com centenas de carros permite, em oculta urbanidade, que eu a observe suave fragrância de uma paixão. Movem-se os carros. Atento dirijo. Nova parada. Volto ao retrovisor. Está ela, na maior naturalidade, com o indicador atolado no nariz, retira-o e faz a bolinha. Desfaz-se o encantamento.
Desafoga o trânsito, sigo meu caminho, na Camboa os carros tornam a enfileirar-se, no retrovisor vejo um carro vermelho, cor do carro dela, é ela, firmo a vista é loura, é outra, esta usa óculos e examina as unhas enquanto espera o semáforo ficar verde.

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