quarta-feira, 6 de abril de 2011

MOEDAS

MOEDAS
Eu ainda era um jovem colegial e não sei por quais cargas d’água encontrei um dia o diretor do Liceu na Praça Dom Pedro II. O Diretor, pessoa de bom caráter, era adequado aos tempos da época, austero, disciplinador, sua presença impunha-nos respeito.
Encontramo-nos. Talvez fosse hora que eu devesse estar na escola. Ofereceu-me carona. Ao sairmos do estacionamento um flanelinha, lavador de carro, se aproximou para receber algum dinheiro pelo tempo que o professor havia parado. Ele sem encontrar moedas de maior valor entregou-lhe algumas moedas de um centavo, cinco talvez. Ao que, zangado o flanelinha jogou-as ao chão.
- Olha, ele não quis as moedas, comentou o professor enquanto saía.
A cena me veio no início deste dois mil e dez. Quarenta anos depois. O flanelinha jogando as moedas ao chão como se pudesse estabelecer um piso mínimo para a sua atividade. 
Atividade que se desenvolveu e por todo este imenso país, onde você pára, há alguém a te cobrar para “vigiar” teu carro. Estacionamentos públicos, ruas, avenidas, praças privatizados por trabalhadores que durante décadas retirarão o pão de cada dia, a casa, o colégio, os presentes, o chope desta invenção, desta criatividade, desta imposição.
Mais um imposto que pagamos pela desigualdade nas oportunidades, no acesso a educação e ao mercado de trabalho.

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