terça-feira, 18 de setembro de 2012

IVETSA & ROMÃO


              Quando ia chegando Zé de Xangô disse, tem duas entidades lá dentro Exú e Pomba Gira, Alberto sorriu cúmplice, logo ele que entende tudo como representação, forma de explicar realidades, comportamentos; duas entidades? é, vamos ver. Prudente, Zé de Xangô ficou na porta.
            No fundo da casa, onde está o belo altar de São Benedito cuidado pelas coreiras que lhe trocam as toalhas, renovam as velas, colocam adereços o Exú toca um tambor e entoa um ponto de mina enquanto Pomba Gira veste um longo vestido vermelho, está deitada no chão e curte uma visível embriaguez.
            Romão entoa os cantos e ouve as conversas dela uma loura, olhos azuis quase louça, vidro. Ao avistar a silhueta de Alberto se levanta de maneira descuidada e mostra a calcinha branca que neste momento não tem nada de erótico e eis uma Pomba Gira eslava que conversa com graça e sotaque carregado, olhe desculpa eu estar assim e semicerra os olhos, sou míope, estava bebendo, perdi os óculos e comprimia mais as pálpebras enquanto aproximava o rosto acentuando-lhe a beleza e as marcas de uma mulher de 50 anos, Ivetsa, muito prazer, arregala os olhos perscrutadores e numa conversa que recorda momentos vividos, graça, beleza retira de uma pasta um book e mostra fotografias, olha esta, este aqui do meu lado é o ministro do Japão, esta é Nova York uma recepção essa aqui sou eu, tá vendo essa? é Minas, morei 16 anos lá, como era bom e de supetão pôs-se a chorar mansamente, um minuto, limpou os olhos, desculpe é o amor, eu sofro, sabe o Baby Boy? ele tá aí? pois é fico com ele, quem  não ficaria brincou o poeta, ah! tu eu não quero és um homem muito charmoso, não quero amor e o choro volta, saí pra procurar um emprego, sou interprete falo inglês, alemão, húngaro, já viste alguém que fala húngaro e charmosamente tocava os cabelos acentuando-lhe a graça, falo francês, italiano, espanhol e português ninguém quer me contratar, não é isso não, eu não quero trabalhar, eu sofro e retoma  o choro. Sabe meu filho Peter amigo do Baby Boy? nasceu lá, hummm era bom, ouvia o the doors, muito rock, rolling stones, led zeplling, pink floyd, um dia em Nova York, o Peter pequenino, na mesa umas bolotas de pó a gente cheirava, eu o pai dele e uns amigos e ouvíamos rock, muito rock, o rosto meditativo, olhos fechados, sereno, a recordar-se, abre os olhos e retoma o choro manso, quase um fingimento. Olha para o Exú, ele pensa que eu sou Pomba Gira, e tu também pensa? e ri-se íntima, não acredito, uhhh... não acredito. tchau....gostei muito de conversar com você, posso voltar? sim,claro, você sabe pra que lado foi o Baby Boy?

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