Quando o corpo fez contraluz, Alberto, pela silhueta,
reconheceu-o. Repele-o. Segue teu caminho, não é hora... que é isso seu
Alberto, só um minutinho... tô vindo de longe... Estende a mão e senta... siô!
já caminhei muito hoje, desde o João Paulo... vou ficar um pouco aqui pra
descansar as pernas... A mulher me botou pra fora de casa. Ela e os filhos
dela. Dooiiiss, ó o tamanho. O braço marcou a altura acima da cabeça, ele, de
baixa estatura. O filho dela me disse, ó cumpadi cuidado quando tu beber, senão
tu apanha, ela ficou do lado deles, me botou pra fora, minhas roupas tão no seu
Raimundo, o louco aí sabe, apontou para Aires é ele é trabalhador confirmou, eu
piro, mas em casa num falta nada. Alberto percebe-lhe a embriaguez amanhecida,
os gestos lentos, a calma lenta do raciocínio e a vontade de falar
ininterruptamente. Siô... Eu trabalho num supermercado, o louco aí sabe, num
é?, é ele trabalha assentiu Aires, essas pulseirinhas, exibiu o mostruário um
cano de 50mm envolto em camurça verde,
ontem aí tava cheinha, trabalhei, fiz um troco, 100 reais? perguntou Aires, 60,
passei em casa deixei o dicumê, aconteceu o acontecido, minhas roupas tão no
seu Raimundo, verdade, o sinhô tá duvidando, me botou pra fora de casa, minhas
coisas tudo lá atrás da porta de seu Raimundo, tomara que a esposa dele não
veja, ela pode botar fora. Siô... eu tava pensando dá pra eu trazer elas pra
cá, não, é aqui não é lugar, olhe siô, tô com vontade de ligar pra ela, liga,
te empresto meu telefone, tu sabe logo e aproveita dá logo um trago pra te
acalmar, riu Aires , não, não vou ligar.
À tarde
com as pulseiras no mostruário, de voz pastosa, vagava na Praia Grande.