domingo, 11 de março de 2012

FORMIGAS



Destacado sobre o branco do muro o formigueiro espalhara-se. Era estranho, não se sabia que formigas tomassem banho de sol. Ao alvorecer, a parede era uma pintura de pontos pretos destacados do branco da cal. Era incomum. Formigas são vistas em seus afazeres de formigueiro, sempre como se não soubessem aonde vão e onde querem chegar, fora isto só o amontoado de terra frente ao pequeno buraco de acesso aos labirintos.
Aproximando a curiosidade de encontro ao branco do muro a cena era de catástrofe, tsunami, deslizamento, terremoto. Os adultos arrastavam os jovens pelas patas e estes se agarravam nelas sem força, aqueles faziam massagens com as antenas e o primeiro par de patas. Todas as formigas sãs estavam ocupadas.
A cena trágica descia o muro ao rés do chão e a observação fechava mais o foco. Aquilo que parecia pequenas inflorescências caídas da alta pitombeira era trazido do formigueiro. Eram casulos não eclodidos, espalhados em volta bolos de formiga duas, três, quatro coladas, debatendo-se, auxiliadas por outras a soltarem-se: casulos com a eclosão incompleta. Havia dor no silêncio que a série de bebêsformiga presos ressecados em seus invólucros causava. Algumas ficavam longo tempo no trabalho de reanimar as que ainda tinham chance de viver e estendiam o trabalho mesmo quando a enferma morrera. Raro. Um formigueiro na parede.
Que acontecera nos túneis? Algum mofo, bactéria. Estavam ressecadas. Amassadas. Solidariedade entre formigas. Todos são um. Todos cuidam de todos. O chilreio dos xexéus, pipiras, rouxinóis, bentivis era indiferente ao muro das formigas. O sol alçava-se ao leste sorrindo o seu calor ao verde das folhas agradecidas.

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