Destacado
sobre o branco do muro o formigueiro espalhara-se. Era estranho, não se sabia
que formigas tomassem banho de sol. Ao alvorecer, a parede era uma pintura de
pontos pretos destacados do branco da cal. Era incomum. Formigas são vistas em
seus afazeres de formigueiro, sempre como se não soubessem aonde vão e onde
querem chegar, fora isto só o amontoado de terra frente ao pequeno buraco de
acesso aos labirintos.
Aproximando
a curiosidade de encontro ao branco do muro a cena era de catástrofe, tsunami,
deslizamento, terremoto. Os adultos arrastavam os jovens pelas patas e estes se
agarravam nelas sem força, aqueles faziam massagens com as antenas e o primeiro par de
patas. Todas as formigas sãs estavam ocupadas.
A
cena trágica descia o muro ao rés do chão e a observação fechava mais o foco. Aquilo
que parecia pequenas inflorescências caídas da alta pitombeira era trazido do
formigueiro. Eram casulos não eclodidos, espalhados em volta bolos de formiga
duas, três, quatro coladas, debatendo-se, auxiliadas por outras a soltarem-se:
casulos com a eclosão incompleta. Havia dor no silêncio que a série de bebêsformiga
presos ressecados em seus invólucros causava. Algumas ficavam longo tempo no
trabalho de reanimar as que ainda tinham chance de viver e estendiam o trabalho
mesmo quando a enferma morrera. Raro. Um formigueiro na parede.
Que
acontecera nos túneis? Algum mofo, bactéria. Estavam ressecadas. Amassadas.
Solidariedade entre formigas. Todos são um. Todos cuidam de todos. O chilreio
dos xexéus, pipiras, rouxinóis, bentivis era indiferente ao muro das formigas.
O sol alçava-se ao leste sorrindo o seu calor ao verde das folhas agradecidas.
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