Meu
pai era delegado, disciplinador, pensa doido, eu pronto pra ir pra festa,
banhado, cheiroso ele dizia, antes junta aquela terra e bota pra dentro, pegava
o carrinho de mão e ia botar a terra toda, a moçada toda lá fora, e aí, vai ou
não vai, e eu lá todo suado, é doido, é assim. Pedi uma vez dinheiro pra minha mãe
ela me disse, vou comprar umas coisas pra tu vender suquinho, comprou as coisas
me ensinou, só uma vez, não precisou mais, como fazer, botou no congelador, me
deu uma caixa de isopor, sabe ali no Luis Viana, lá que eu vendia. Nunca mais
pedi dinheiro, eu que me virava. Toma um copo aí. Eu gosto é de curtir, assar
uma carne, uma breja, sair com umas gatas, fumar um gererê. Acha mesmo que vou
me matar, trabalhar, vou na repartição, bato o ponto faço aquele agá, pronto.
Bebe um copo aí cumpade, num quer mesmo. Toma, uma gelada antes do almoço faz a
gente ficar pensando melhor, até agora só bebi seis. Eh Irmão! Traz mais uma,
gelaaada, ladrão. Gostava de lutar Karatê, por isso olha sou forte, disputei JEMS,
coisa boa, agora não, só curto. Olha aí, sabe quem quer comprar, é cartucho de
impressora, ali na repartição tava de bobeira, tá novinha, trinta reais, só pra
eu curtir mais. Tô a fim de fumar umzinho, tenho uma aqui lá do Sá Viana, dum
chegado meu. O Alberto, de vez em quando jogo um xadrez com ele, eu ganho, fica
puto, rá, fica puto, ele ganha também, tô fazendo um chek up, fígado, pressão,
rim, tudo meio assim, coração tá com problema, num tô nem aí, deixa o bicho
pegar. Só um copo aí. Quando num tô aqui tô na Vicente Fialho, tem um boteco
lá, tenho conta, fim do mês é só pagando, saio com a gata, comer uma pizza, um
vinho. Tá zangada comigo. Mulher, sabe como é, pega no pé. Chego em casa compro
uma carne, fazer um churrasco, meia dúzia bem gelada no congelador, uma vodkca, limão, caipirinha, ora, detonei
tudo.Depois dormi. Ficou puta. Queria sair, diz que shopping, só gastar
dinheiro. Dinheiro dela. Ganha bem. Agora mesmo ainda vou acolá pegar um
trampo, um negócio, vou de moto. Se eu vou cair, estória. já caí. rebentei
tudo, boca, maxilar, olho roxo, engessei o braço, outra vez o cara me trancou,
ônibus, fechei o guidom, capotei por cima, arranhei todo, é doido , o processo
é lento e o bagulho é doido. Vou tomar mais uma aqui no Irmão, esperar o sol
esfriar, não vai beber mesmo, já vai, tá certo, vou curtir um pouco mais, se eu
não tenho medo de morrer, nasci de sete meses, sou apressado, vim apressado, tô
é curtindo.
sexta-feira, 23 de março de 2012
terça-feira, 20 de março de 2012
ESPIRITUALIDADE
A verdade é a vida que temos
com
suas clarezas
e
obscuridades
com
seus diálogos
e
monólogos
cujo sabedor íntimo
sou eu
domingo, 11 de março de 2012
FORMIGAS
Destacado
sobre o branco do muro o formigueiro espalhara-se. Era estranho, não se sabia
que formigas tomassem banho de sol. Ao alvorecer, a parede era uma pintura de
pontos pretos destacados do branco da cal. Era incomum. Formigas são vistas em
seus afazeres de formigueiro, sempre como se não soubessem aonde vão e onde
querem chegar, fora isto só o amontoado de terra frente ao pequeno buraco de
acesso aos labirintos.
Aproximando
a curiosidade de encontro ao branco do muro a cena era de catástrofe, tsunami,
deslizamento, terremoto. Os adultos arrastavam os jovens pelas patas e estes se
agarravam nelas sem força, aqueles faziam massagens com as antenas e o primeiro par de
patas. Todas as formigas sãs estavam ocupadas.
A
cena trágica descia o muro ao rés do chão e a observação fechava mais o foco. Aquilo
que parecia pequenas inflorescências caídas da alta pitombeira era trazido do
formigueiro. Eram casulos não eclodidos, espalhados em volta bolos de formiga
duas, três, quatro coladas, debatendo-se, auxiliadas por outras a soltarem-se:
casulos com a eclosão incompleta. Havia dor no silêncio que a série de bebêsformiga
presos ressecados em seus invólucros causava. Algumas ficavam longo tempo no
trabalho de reanimar as que ainda tinham chance de viver e estendiam o trabalho
mesmo quando a enferma morrera. Raro. Um formigueiro na parede.
Que
acontecera nos túneis? Algum mofo, bactéria. Estavam ressecadas. Amassadas.
Solidariedade entre formigas. Todos são um. Todos cuidam de todos. O chilreio
dos xexéus, pipiras, rouxinóis, bentivis era indiferente ao muro das formigas.
O sol alçava-se ao leste sorrindo o seu calor ao verde das folhas agradecidas.
sábado, 3 de março de 2012
BARBIE PROCURA NAMORADO
De
vestido, bolsa e sapatos rosa ela desfila sua graça pela Nauro Machado, praça
onde acontece parte das festividades do pré-carnaval, no palco Tião Carvalho
com o cavaquinho e poderosa banda anima os foliões ao som do Baralho, não são
muitos os que dançam e a praça está quase vazia, pois a hora é cedo. Sozinha.
Espalha sua beleza vestindo uma peruca escandalosamente branca. Seus olhos
buscam conhecidos, amigos, amigas. Conversa aqui. Conversa acolá. Uma latinha
de cerveja. Ninguém é de ferro. Êh! Menina, quanto tempo. Beijos, abraços,
alegria esfuziante. Quanto tempo, pois é, casei, agora estou mais em casa. E
tu, sempre bonita, tá só? nesse carnaval? não acredito? pois eu estou com o
Igreja há mais dois anos, sabe como é casamento, a gente fica mais em casa, e
tu. Saí um tempo aí com o Daniel, mas sabe o cara é cheio de pose, machisssta,
ciumento, é um cara legal, no fundo um tímido inseguro, saímos muitas vezes,
mas não quis ficar com ele, até dei uns beijos nele. Acho que gorou, fomos
ficando cada vez mais competitivos um com o outro, ele pra provar que era macho
ia ficando com umas e outras, eu também fui arranjando uns e outros, que eu não
sou de perder pra buchudo, agora ele casou, encontrou uma menina se apaixonou,
coisa da vida. mas estou bem o que não me falta é pretendente, basta eu fazer
assim oh que tá aqui na minha mão. rssss... Olha esse coroa, bonito, gosto de
cara assim... É o Alberto, é músico, liso, sabe como é essa moçada da música
vive no vermelho, mas dizem que é muito bom de cama. Me apresenta. Alberto,
toma um chopp aqui com a gente, te apresento minha amiga. Prazer sou Barbie e
não faz esta cara de espanto, mamãe gostava da boneca, que é isso, o nome
combina com você, é, hoje eu estou no personagem. Tem festa hoje no Labô. É uma
boa,vamos lá. vamos. antes que chova, não demora chover. Ferveção geral. Fofões,
super heróis, bruxas, mulher das cavernas, nêga maluca, confetes e serpentinas.
Perdem-se no salão. Cada um pra seu lado. O rosa vestido de Barbie confundia-se
com o rosa vestido de Nôni, jovem artista, vestido de mulher e esmerando-se na
interpretação. A cervejinha. O cigarro envergonhado pelos cantos. No banheiro o
discreto movimento do bright. Normal em toda festa. A fome atacara Alberto que
se sacia com peixe frito, arroz e vatapá. O tempo despeja água em profusa chuva
de sons e afastado do salão ele conversa com Araújo amigo de música, de vida.
Conversa sem pressa. Dois pra lá, dois pra cá. Espremem-se no corredor
ajanelado da casa, passagem dos que vão ao banheiro, dos que vão ao bar.
Balcão. Os sons diminuem e os pingos não
amedrontam os foliões suarentos a buscar uma fresca. Um casal divide, a gelada,
e a conversa embevecidos, ele pelos encantadores olhos adornados de sorriso
rosa, ela pela prosa, as conversas, amigas, iphone. Os olhos de Barbie
permanecem famintos, rodam pelo salão a procura de nada. Um baseado. Alberto
sentiu vontade de fumar um. Romão, dançarino e pintor, apresentou. Os dedos
haviam enrolado e a língua umedecia a parte exposta da seda para fechar o
cigarro, Alberto viu Momo,. Momo viu Alberto. Tu não pode fumar aqui. Posso,
vou fumar. Vou chamar o segurança. Chama. Vou acender; acende. O tempo úmido não
colabora os pingos sonoros são finos, dificultam a queima. É difícil acender.
Não acende isto aí, te peço. Alberto aquiesce. Desce as escadas e encostado ao
portal do casarão fuma com Romão, Justina, dançarina, e o flanelinha de
sombrinha que se aproxima. A Bandida começa a tocar, o salão pega fogo, homem
com mulher, mulher com homem, homem com homem, mulher com mulher, tudo no
aceitável mundo do carnal, do carnaval. Saudosas serpentinas, tímidos confetes
e inexistente maisena colorem a festa de verdes, dourados, brancos,
pretos,paetês, acetatos. Eu fui cozinhar um ovo, mas tinha um pinto dentro,
você já pensou se eu cozinho com o pinto dentro. Ah s’eu cozinho. Ah s’eu
cozinho. Ah s’eu cozinho com o pinto dento. O cantor agitava o refrão, Nôni
descia até o chão rebolando na garrafa. Mulher das Cavernas beija Capitão Gay.
Cruz Diabo abraça Fofão. O sons vão silenciando. Para a festa. A Banda. A
chuva. Barbie pega uma carona com o
casal. Alberto pega um taxi
2ª feira de carnaval, carnaval de segunda, Alberto assiste
ao tambor de crioula. Desponta de branco, meiga e nada tímida, com enorme
peruca rosa, aos beijos com um jovem com uma enorme guitarra tatuada no braço.
Oi Barbie.
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