sexta-feira, 23 de março de 2012

BERNARDO SAI PARA CURTIR



                Meu pai era delegado, disciplinador, pensa doido, eu pronto pra ir pra festa, banhado, cheiroso ele dizia, antes junta aquela terra e bota pra dentro, pegava o carrinho de mão e ia botar a terra toda, a moçada toda lá fora, e aí, vai ou não vai, e eu lá todo suado, é doido, é assim. Pedi uma vez dinheiro pra minha mãe ela me disse, vou comprar umas coisas pra tu vender suquinho, comprou as coisas me ensinou, só uma vez, não precisou mais, como fazer, botou no congelador, me deu uma caixa de isopor, sabe ali no Luis Viana, lá que eu vendia. Nunca mais pedi dinheiro, eu que me virava. Toma um copo aí. Eu gosto é de curtir, assar uma carne, uma breja, sair com umas gatas, fumar um gererê. Acha mesmo que vou me matar, trabalhar, vou na repartição, bato o ponto faço aquele agá, pronto. Bebe um copo aí cumpade, num quer mesmo. Toma, uma gelada antes do almoço faz a gente ficar pensando melhor, até agora só bebi seis. Eh Irmão! Traz mais uma, gelaaada, ladrão. Gostava de lutar Karatê, por isso olha sou forte, disputei JEMS, coisa boa, agora não, só curto. Olha aí, sabe quem quer comprar, é cartucho de impressora, ali na repartição tava de bobeira, tá novinha, trinta reais, só pra eu curtir mais. Tô a fim de fumar umzinho, tenho uma aqui lá do Sá Viana, dum chegado meu. O Alberto, de vez em quando jogo um xadrez com ele, eu ganho, fica puto, rá, fica puto, ele ganha também, tô fazendo um chek up, fígado, pressão, rim, tudo meio assim, coração tá com problema, num tô nem aí, deixa o bicho pegar. Só um copo aí. Quando num tô aqui tô na Vicente Fialho, tem um boteco lá, tenho conta, fim do mês é só pagando, saio com a gata, comer uma pizza, um vinho. Tá zangada comigo. Mulher, sabe como é, pega no pé. Chego em casa compro uma carne, fazer um churrasco, meia dúzia bem gelada no congelador, uma  vodkca, limão, caipirinha, ora, detonei tudo.Depois dormi. Ficou puta. Queria sair, diz que shopping, só gastar dinheiro. Dinheiro dela. Ganha bem. Agora mesmo ainda vou acolá pegar um trampo, um negócio, vou de moto. Se eu vou cair, estória. já caí. rebentei tudo, boca, maxilar, olho roxo, engessei o braço, outra vez o cara me trancou, ônibus, fechei o guidom, capotei por cima, arranhei todo, é doido , o processo é lento e o bagulho é doido. Vou tomar mais uma aqui no Irmão, esperar o sol esfriar, não vai beber mesmo, já vai, tá certo, vou curtir um pouco mais, se eu não tenho medo de morrer, nasci de sete meses, sou apressado, vim apressado, tô é curtindo.

terça-feira, 20 de março de 2012

ESPIRITUALIDADE




A verdade é a vida que temos
com
suas clarezas
e
obscuridades
com
seus diálogos
e
monólogos
cujo sabedor íntimo
sou eu

domingo, 11 de março de 2012

FORMIGAS



Destacado sobre o branco do muro o formigueiro espalhara-se. Era estranho, não se sabia que formigas tomassem banho de sol. Ao alvorecer, a parede era uma pintura de pontos pretos destacados do branco da cal. Era incomum. Formigas são vistas em seus afazeres de formigueiro, sempre como se não soubessem aonde vão e onde querem chegar, fora isto só o amontoado de terra frente ao pequeno buraco de acesso aos labirintos.
Aproximando a curiosidade de encontro ao branco do muro a cena era de catástrofe, tsunami, deslizamento, terremoto. Os adultos arrastavam os jovens pelas patas e estes se agarravam nelas sem força, aqueles faziam massagens com as antenas e o primeiro par de patas. Todas as formigas sãs estavam ocupadas.
A cena trágica descia o muro ao rés do chão e a observação fechava mais o foco. Aquilo que parecia pequenas inflorescências caídas da alta pitombeira era trazido do formigueiro. Eram casulos não eclodidos, espalhados em volta bolos de formiga duas, três, quatro coladas, debatendo-se, auxiliadas por outras a soltarem-se: casulos com a eclosão incompleta. Havia dor no silêncio que a série de bebêsformiga presos ressecados em seus invólucros causava. Algumas ficavam longo tempo no trabalho de reanimar as que ainda tinham chance de viver e estendiam o trabalho mesmo quando a enferma morrera. Raro. Um formigueiro na parede.
Que acontecera nos túneis? Algum mofo, bactéria. Estavam ressecadas. Amassadas. Solidariedade entre formigas. Todos são um. Todos cuidam de todos. O chilreio dos xexéus, pipiras, rouxinóis, bentivis era indiferente ao muro das formigas. O sol alçava-se ao leste sorrindo o seu calor ao verde das folhas agradecidas.

sábado, 3 de março de 2012

BARBIE PROCURA NAMORADO



    De vestido, bolsa e sapatos rosa ela desfila sua graça pela Nauro Machado, praça onde acontece parte das festividades do pré-carnaval, no palco Tião Carvalho com o cavaquinho e poderosa banda anima os foliões ao som do Baralho, não são muitos os que dançam e a praça está quase vazia, pois a hora é cedo. Sozinha. Espalha sua beleza vestindo uma peruca escandalosamente branca. Seus olhos buscam conhecidos, amigos, amigas. Conversa aqui. Conversa acolá. Uma latinha de cerveja. Ninguém é de ferro. Êh! Menina, quanto tempo. Beijos, abraços, alegria esfuziante. Quanto tempo, pois é, casei, agora estou mais em casa. E tu, sempre bonita, tá só? nesse carnaval? não acredito? pois eu estou com o Igreja há mais dois anos, sabe como é casamento, a gente fica mais em casa, e tu. Saí um tempo aí com o Daniel, mas sabe o cara é cheio de pose, machisssta, ciumento, é um cara legal, no fundo um tímido inseguro, saímos muitas vezes, mas não quis ficar com ele, até dei uns beijos nele. Acho que gorou, fomos ficando cada vez mais competitivos um com o outro, ele pra provar que era macho ia ficando com umas e outras, eu também fui arranjando uns e outros, que eu não sou de perder pra buchudo, agora ele casou, encontrou uma menina se apaixonou, coisa da vida. mas estou bem o que não me falta é pretendente, basta eu fazer assim oh que tá aqui na minha mão. rssss... Olha esse coroa, bonito, gosto de cara assim... É o Alberto, é músico, liso, sabe como é essa moçada da música vive no vermelho, mas dizem que é muito bom de cama. Me apresenta. Alberto, toma um chopp aqui com a gente, te apresento minha amiga. Prazer sou Barbie e não faz esta cara de espanto, mamãe gostava da boneca, que é isso, o nome combina com você, é, hoje eu estou no personagem. Tem festa hoje no Labô. É uma boa,vamos lá. vamos. antes que chova, não demora chover. Ferveção geral. Fofões, super heróis, bruxas, mulher das cavernas, nêga maluca, confetes e serpentinas. Perdem-se no salão. Cada um pra seu lado. O rosa vestido de Barbie confundia-se com o rosa vestido de Nôni, jovem artista, vestido de mulher e esmerando-se na interpretação. A cervejinha. O cigarro envergonhado pelos cantos. No banheiro o discreto movimento do bright. Normal em toda festa. A fome atacara Alberto que se sacia com peixe frito, arroz e vatapá. O tempo despeja água em profusa chuva de sons e afastado do salão ele conversa com Araújo amigo de música, de vida. Conversa sem pressa. Dois pra lá, dois pra cá. Espremem-se no corredor ajanelado da casa, passagem dos que vão ao banheiro, dos que vão ao bar. Balcão.  Os sons diminuem e os pingos não amedrontam os foliões suarentos a buscar uma fresca. Um casal divide, a gelada, e a conversa embevecidos, ele pelos encantadores olhos adornados de sorriso rosa, ela pela prosa, as conversas, amigas, iphone. Os olhos de Barbie permanecem famintos, rodam pelo salão a procura de nada. Um baseado. Alberto sentiu vontade de fumar um. Romão, dançarino e pintor, apresentou. Os dedos haviam enrolado e a língua umedecia a parte exposta da seda para fechar o cigarro, Alberto viu Momo,. Momo viu Alberto. Tu não pode fumar aqui. Posso, vou fumar. Vou chamar o segurança. Chama. Vou acender; acende. O tempo úmido não colabora os pingos sonoros são finos, dificultam a queima. É difícil acender. Não acende isto aí, te peço. Alberto aquiesce. Desce as escadas e encostado ao portal do casarão fuma com Romão, Justina, dançarina, e o flanelinha de sombrinha que se aproxima. A Bandida começa a tocar, o salão pega fogo, homem com mulher, mulher com homem, homem com homem, mulher com mulher, tudo no aceitável mundo do carnal, do carnaval. Saudosas serpentinas, tímidos confetes e inexistente maisena colorem a festa de verdes, dourados, brancos, pretos,paetês, acetatos. Eu fui cozinhar um ovo, mas tinha um pinto dentro, você já pensou se eu cozinho com o pinto dentro. Ah s’eu cozinho. Ah s’eu cozinho. Ah s’eu cozinho com o pinto dento. O cantor agitava o refrão, Nôni descia até o chão rebolando na garrafa. Mulher das Cavernas beija Capitão Gay. Cruz Diabo abraça Fofão. O sons vão silenciando. Para a festa. A Banda. A chuva.  Barbie pega uma carona com o casal. Alberto pega um taxi                                                           
2ª feira de carnaval, carnaval de segunda, Alberto assiste ao tambor de crioula. Desponta de branco, meiga e nada tímida, com enorme peruca rosa, aos beijos com um jovem com uma enorme guitarra tatuada no braço. Oi Barbie.