domingo, 19 de fevereiro de 2012

MARIA DA PENHA



Olhe; aquele que está deitado tá com uma faca. Então tem que chamar a polícia, retrucou. O que fazia a denúncia trajava bermuda e trazia a camisa da Marambaia nas mãos, um bucho protuberante e um tanto quanto gordinho era a cara do peralta querendo ver ação. Os dois policiais bombeiros eram jovens e evidentemente estavam ali para prestar socorro aos foliões mais exagerados, não para entrar em briga. Olharam para a direção que o peralta apontava e assim de longe, ao escurecer viam dois jovens, um casal, ele em posição de lótus ao lado do expositor de artesanato, colares, brincos, pulseiras em madeira, miçangas, penas,  ametistas, madrepérolas, ágatas, era franzino, sarará, e o cabelo estava amarrado em um pequeno rabo de cavalo. Ela morena, estava deitada na calçada de saia curta, calça-liga preta, sandálias gastas e um pano colorido no cabelo, de onde se via parecia que conversavam. O que está deitado é que tem a faca informa o folião da Marambaia. Os socorristas dirigem-se à cena, mas vão passar ao largo em busca do trailer da polícia ao lado da Câmara de Vereadores, no entanto o jovem franzino chama , vem cá, vem cá, gesticula com a mão pedindo, relutantes se aproximam, ela ergue o pescoço e aponta os lugares na costa, no tórax e na cabeça onde fora agredida, enquanto com carinho o sarará pede fica quieta, deixa eles examinarem. Os bombeiros põem luva nas mãos, luvas brancas e se preparam para prestarem o socorro necessário. Surge vindo do trailer dois policiais que possivelmente foram informados da confusão. Esta hora diversos curiosos já se aproximam. Que houve aqui? Eu briguei com ela. Imediatamente um dos policiais levantou o lourinho pela camisa, ele franzino espantado foi revistado e nada tendo, solto. As atenções se voltaram para o chão, um bombeiro fazia a assepsia de um ferimento na sobrancelha e à medida que os curiosos se aproximam  percebem que ela é ele. É uma bichinha queixosa e amorosa que troca palavras magoadas e ternas com o seu namorado, fora um desentendimento à toa, malvado, pra que essa violência, e erguia o tronco e voltava a deitar-se enquanto os paramédicos concluíam o socorro, nisto um meio sorriso vai se instalando no rosto de todos que assistiam e quando um policial diz é caso para a Maria da Penha todos riem.

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