quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

QUEDA

Quem fino em sintonia
espera de seus pares solidariedade,
força, simples cortesia,
cautela: a confiança é o alçapão.

Todos grudados em todos estamos,
o empurrão deixa-nos no abismo.
Rápido nos agarramos ao cipó da encosta
e retornamos à vida, calejados,
senão a queda é o fim
do poço sem fim.

EM PAR, ÍMPAR

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

CORAÇÃO

tutu tutu tutu
tutu tutu tutu
tutu tutu tutu
tutu tutu tutu

tutu tutu tutu
tutu tutu tutu
 tut.  tut.  tut.

tutu .utu .utu
t.tu  t.tu   t.tu
tu.u tu.u  tu.u
tut.  tut.   tut.

tu..  tu..  tu..
.ut.  .ut.  .ut.
..t.   ..t.   ..t.
.u..  t..u  ...u
....   ....   .ut.
....   ....   ....

EM PAR, ÍMPAR

sábado, 17 de dezembro de 2011

ON THE ROAD

Sigo sem dramas e paixões
enorme iceberg
acorrentado ao vendaval de Macondo,
on the road.

Persigo o pulsar,
o instante, a chama,
o incêndio dialético,
a vida a 10 trava.

Ando.

EM PAR, ÍMPAR

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

João Lisboa

Há ônibus arluindo a pazlisboa
o Carmo mantém o útero frio,
os séculos indiferentes à fuligem
ácida em seus aulejos.

Rei dos Homens e Boquinha
- eternos do abrigo -
embrulham-se na algazarra dos motoristas de táxi.

Estaciono na sombrafontemaravilhosa
enquanto o pega pinto roladeirabaixo estômago.

Resta o vento morno do verão
a espantar o frio invernal.

EM PAR, ÍMPAR

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A LÍNGUA

A língua
púrpura contingência
do meu ofício,
oferta-me madrugadas,
onde
tropeço-me em
amnésicas voltas à caverna:
abrigoobservatório.
Vejo
a imensa exaustão humana,
princípio de realidade,
adia o prazer.
Sempre há dia.
Amanhã é morte.
Vida se vive aqui.
Explodem-me cogumelos,
emoção sax afim.

EM PAR, ÍMPAR

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

ESCALDO

A vida é que se revela
na lição de cada esquina.
Na armação do encontro
os escaldos sem rima
deixam-nos desnorteados
quais os escaldos de menino
preso um pouco mais ao fundo
enquanto as ondas quebram
em meus ouvidos submersos
e os pulmões desejam o ar.
As mãos que me submetem
afrouxam a pressão
e me levantam a cabeça.
Inalo o ar que posso
no soluço afogado.
Era só brincadeira.

Os de vera, verídicos, existenciais,
só nos ensinam:
Ora em baixo.
Ora em cima.

O FRUTO DA IRA É DOCE.

domingo, 4 de dezembro de 2011

SOBRE OS CINZAS

um olhar de Wagner Alhadeff

A ilha de São Luis é cercada por um horizonte cinza.
O olhar viajando do zênite ao poente
contempla o brilho azulceleste da abóbada
misturar-se ao branco das nuvens
e adquirir um tom rosapálidocinza
até fundir-se à cerração do mar
e à visão longínqua do continente alcantarense:
Vê salcinza.

O FRUTO DA IRA É DOCE

sábado, 3 de dezembro de 2011

RELEITURA

O novo é a leitura do velho,
o novo é a desleitura do velho,
o novo é a nova visão do velho,
o novo é o velho novamente,
o novo é a leitura do velho.

O FRUTO DA IRA É DOCE

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

PEDRINHAS

Talvez o capitalismo seja
reflexo do que somos individualmente
e não o inverso.
Acredito ser verdade que
se nos mudarmos,
sa alterarmos caducas formas de ver e enfrentar a vida,
se efetivamente sairmos da barbárie,
se nossso imaginário for povoado de idéias eticamente válidas,
se ao animal
somarmos o verniz do sublime, mudaremos.
Caro Leitor
perdõe-me a inexatidão com que me exprimo,
posto que no ofício de poeta
as palavras primas, argamassa da poesia,
sujeitam-me ao sinal do signo.
Toda elevação humana é válida,
atingiremos por dentro o sistema
na bricolagem sociondividual
e assim transformados, transformar.
Há pequenas coisas a serem feitas.
Um forno em Pedrinhas,
para assar cerâmica trabalhada
por prisioneiros orientados por uma artista
que se ver obrigada a quebrar as peças manufaturadas
para reciclar o barro e manter os detentos
atentos ao descortinar do dia.
Falta forno. Falta barro.

O FRUTO DA IRA É DOCE